O relatório Figueiredo e o genocídio indígena no Brasil

em 31/07/2013


Na sexta feira passada, uma postagem revoltante foi ao ar aqui no blog Noite Sinistra, falo do texto que retratava o Holocausto ocorrido no hospital psiquiátrico Colônia, em Barbacena, Minas Gerais (clique aqui para recordar). O assunto mexeu um tanto com esse que voz escreve, principalmente pelo fato de cerca de 60 mil pessoas terem morrido dentro dos murros dessa instituição que jamais deveria ser chamada de hospital, e até hoje ninguém ter sido punido pelo acontecido. Nos dias que sucederam a publicação dessa postagem, eu procurei na internet por outros casos parecidos envolvendo massacres em terras brasileira. Abaixo eu compartilho com vocês o resultado dessa pesquisa.

Como de uma Fênix se tratasse, 45 anos depois de ser misteriosamente “destruído” em um incêndio, um relatório, que detalha atrocidades contra índios brasileiros nas décadas de 40, 50 e 60, ressurgiu do nada. Encomendado pelo Ministério do Interior em 1967, o Relatório Figueiredo causou um clamor internacional depois de revelar crimes contra a população indígena cometidas por latifundiários poderosos e pelo próprio Serviço de Proteção ao Índio.

O documento com mais de 7 mil páginas foi compilado pelo Procurador Jader de Figueiredo Correia, ali encontramos detalhes de assassinatos em massa, tortura, escravidão, abuso sexual, roubo de terras e inclusive guerra bacteriológica contra a população indígena do Brasil. Como resultado, algumas tribos foram totalmente dizimadas.

O relatório foi recentemente redescoberto no Museu do Índio e agora, se não "pegar fogo" providencialmente de novo, será considerado pela Comissão Nacional de Verdade do Brasil, que está investigando as violações de direitos humanos ocorridas entre 1947 e 1988.

Um dos muitos exemplos chocantes que podemos encontrar no relatório descreve o "massacre do paralelo 11", em que bananas de dinamite foram lançadas de um pequeno avião sobre a aldeia de índios Cinta Larga. 30 pessoas morreram, apenas dois sobreviveram para contar história.


Mas os latifundiários e madeireiros cometeram um sem número de outros crimes horrendos, por exemplo, centenas de índios foram envenenados com açúcar misturado com arsênico, muitos foram torturados em um instrumento conhecido como o "tronco" que permite ao algoz esmagar lentamente os tornozelos das vítimas.

As descobertas de Figueiredo correram o mundo e um artigo intitulado "Genocídio", em 1969, no Sunday Times, descrevia:

- "Do fogo e espada ao arsênico e balas – a civilização enviou seis milhões de índios para a extinção". Este artigo foi o responsável por um pequeno grupo de pessoas ter se mobilizado para criar a Survival International naquele mesmo ano.

Com o clamor da opinião pública, o governo instituiu um inquérito judicial para apurar os fatos, 134 funcionários foram acusados de mais de mil crimes, resultando na demissão de 38 funcionários, mas ninguém foi preso pelas atrocidades.


O vergonhoso Serviço de Proteção ao Índio deu lugar a FUNAI. No entanto, mesmo que grandes extensões de terras indígenas tenham sido demarcadas desde então, as tribos brasileiras continuam a lutar contra a invasão de suas terras por madeireiros, fazendeiros e colonos ilegais. Em palavras do diretor da Survival International, Stephen Corry:

- "O relatório Figueiredo faz uma leitura horrível, mas de alguma forma, nada mudou: quando se trata do assassinato de índios, reina a impunidade. Homens armados matam rotineiramente índios com a consciência que há pouco risco de serem julgados e punidos, nenhum dos assassinos responsáveis por atirar contra líderes Guarani e Makuxi foi preso por seus crimes. É difícil não suspeitar que o racismo e a ganância estão na raiz do fracasso do Brasil em defender as vidas de seus cidadãos indígenas".

Ao longo dos séculos a civilização humana, os chamados "povos desenvolvidos", perseguimos com vontade o genocídio dos povos indígenas, por claros interesses econômicos e ideológicos, e isto está, infelizmente, muito longe de se bastar. Em 2006 um vídeo foi publicado de forma anônima no Youtube, ele  mostrava fazendeiros, com o apoio de autoridades locais, expulsando repórteres da referida cidade. Mais tarde este vídeo foi editado e postado como o título "Amazônia, uma região de poucos" que você pode ver logo abaixo.


O vídeo mostra um grupo de repórteres do Greenpeace, da Opan e alguns jornalistas franceses, que foram até a região para entrevistar os membros de uma tribo que teve suas terras invadidas, sendo levados para a Câmara Municipal, onde uma sessão especial foi celeremente organizada. Todas as autoridades locais estavam presentes e mais de 50 fazendeiros, que insistiam em dizer que a entrada do grupo não seria permitida e que a coisa poderia ficar "perigosa" se insistissem no encontro. Em algum momento alguém chega mesmo a dizer que "Os índios são nossos", retratando bem o grupo que decidiu acabar com direitos constitucionais da cidade.

Para encurtar a história, os jornalistas temerosos (quem não ficaria?) decidiram cancelar encontro para evitar maiores conflitos, e foram para o hotel, onde os fazendeiros fizeram uma vigília durante toda a noite. De manhã cedinho, 30 caminhonetes lotadas, com faróis acesos buzinando sem parar, insultavam e ameaçavam o grupo, que teve de ser escoltado por duas viaturas policiais até o aeroporto. Ali foram advertidos a decolar imediatamente, ou o avião seria queimado.


Fonte: Metamorfose Digital.

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15 comentários:

  1. nao bastasse todo sofrimento vivido pelos povos indigenas, na luta pela sobrevivencia, vemos as agruras do abandono e o descaso institucionalizado... excelente post manolo!!!

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  2. nao bastasse todo sofrimento vivido pelos povos indigenas, na luta pela sobrevivencia, vemos as agruras do abandono e o descaso institucionalizado... excelente post manolo!!!

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  3. nao bastasse todo sofrimento vivido pelos povos indigenas, na luta pela sobrevivencia, vemos as agruras do abandono e o descaso institucionalizado... excelente post manolo!!!

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  4. nao bastasse todo sofrimento vivido pelos povos indigenas, na luta pela sobrevivencia, vemos as agruras do abandono e o descaso institucionalizado... excelente post manolo!!!

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    1. Os Índios que de fato são os primeiros brasileiros e o verdadeiros "proprietários" desse país, são marginalizados e injustiçados desde o descobrimento, assim como povos nativos de tantos outros países...como Incas, Astecas, os indígenas dos EUA...é muito triste isso...

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    2. Sugiro que você doe a sua casa para algum índio (verdadeiro donos dessas terras) e volte para o pais de origem dos teus antepassados.

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  5. Tudo em nome da ganância, no mundo que vivemos os bens materiais justificam genocídios, as posses, terras são melhores tratadas e crimes patrimoniais são apurados com celeridade, covardia crime estatizado, triste.

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    1. Concordo plenamente com vc Mairon!!! Me parece que o valor de cada um de nós está apenas relacionado com as posses que temos, e não baseado em quem somos e nosso caráter...A vida vale cada vez menos!!!

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  6. se os assassinos do índio PATAXO , já estão livres se é que ficaram presos, saíram impunes que dirá neste caso de genocídio ocorrido há tanto tempo irá trazer os culpados à luz da justiça. mas se fossem os desaparecidos do governo militar haveria uma mobilização da comissão DIREITO E PAZ, mas como se tratam de índio selvagens silvícolas. QUEM SE IMPORTA.....

    PARABÉNS PELA POSTAGEM EU LI A ANTERIOR DO GENOCÍDIO DOS DOENTES MENTAIS MUITO BOA TB

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    1. Agradeço demais a sua participação Senhor Haddad. Postagens como essa, e a do Genocídio no hospital mineiro, falam de assuntos que acabam sendo escondidos das grandes massas, seja pelo governo ou por veículos de imprensa que noticiam apenas o que lhes convém. É justamente aí que entra a internet, que por enquanto é um lugar livre, aqui a gente pode reunir informações e debater sobre esses assuntos...e é muito importante quando blogs como o meu, recebem incentivo de pessoas como o senhor!!!

      Mais uma vez, agradeço a sua participação!!!

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  7. Os índios já possuem 13% de todo o territorial nacional.
    São a etnia que mais cresce no Brasil,bem acima da media.
    São os únicos que tem um órgão governamental previsto na constituição federal de 1988 (FUNAI).
    Nos pagamos um salário mínimo por índio, para eles não fazerem nada.
    Parece que querem que todos os não nativos , voltem para o pais de origem dos seu antepassados e deixem os índios em paz na terra de Pindorama.
    Se o sujeito quer ser indo, que vá morar no mato,sem roupa ,sem geladeira,sem celular e sem camionete.Se quiser estas coisa, tem que abdicar da condição de índio , e passar a ser um cidadão comum.

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    1. E você acha 13% pouco?
      O que tem de mais a população indígena crescer?

      Não sou de origem indígena, porém acredito que os índios não querem que os brancos voltem para o país de origem dos seus antepassados (ao contrário de alguns estrangeiros que chegaram por aqui no passado e tentaram de todas as formas expulsar ou aniquilar os nativos brasileiros).

      Que pensamento é esse seu, hein!
      Depois de ler seu comentário, estou começando a ter dó dos fazendeiros, kkkkkkkkk...

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    2. Olha Ivo, esses dados são altamente contestáveis. Apesar desses 13% serem considerados terra indígena, os índios não desfrutam de sua posse plena, já que grande parte das terras encontram-se invadidas por fazendeiros, madeireiros, garimpeiros, etc. Além disso, a maioria das terras indígenas se concentram na Amazônia, enquanto em outros Estados as terras indígenas são poucas e pequenas, com os índios vivendo numa situação confinamento. Se vc pegar o Mato Grosso do Sul, por ex, vai perceber que as terras indígenas demarcadas pelo SPI na década de 1940 são diminutas, enquanto a população do Estado é a 2ª maior população indígena do País, perdendo apenas para o Amazonas. Já foi comprovado que, nas décadas de 1940, 50 e 60, essas terras foram roubadas por particulares, ou ilegalmente tituladas pelo governo do Estado, como se fossem terras devolutas e não indígenas. Há documentação escrita que comprova isso, além do próprio Relatório Figueiredo. Tb não não podemos nos esquecer que as terras indígenas, conforme consta em nossa constituição, não são criadas pelo Estado brasileiro, mas apenas reconhecidas. Sua existência precede a formação do próprio Estado e é por isso que se diz que os direitos territoriais indígenas são originários. Demarcação não cria terra, reconhece uma realidade que já existe e que apenas é comprovada pelos estudos de identificação e delimitação efetuado por técnicos, realizados não de forma arbitrária, mas em consonância ao estipulado na legislação brasileira sobre o assunto. Outra coisa: ser índio não é ficar pelado no mato, ok? Ser índio significa possuir algum tipo de vínculo com os chamados povos pré-comlombianos, é se reconhecer e ser reconhecido por um dado grupo que possui esses vínculos. Ver televisão, usar celular e computador, etc, não implica em perda da identidade indígenas e muito menos em perda de direitos territoriais. Acaso, vc, como brasileiro, deixa de sê-lo pelo simples fato de viver em outro país, de falar outra língua, de aprender outros costumes? Não. Então que critério é esse tão estranho para definir o que é ser índio? Quem inventou, baseado em que? E para concluir: índios não recebem um salário mínimo por ser índios. Índios tem direito aos mesmos benefícios sociais aos quais tem direito o restante da população brasileira, nada mais.

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    3. Aplausos de pé para a senhorita...soube responder a opinião de outro leitor que possuí opinião diferente da sua, sem precisar usar de agressões verbais ou sem tentar diminuir o outro...sem contar a forma perfeita com que expressou sua opinião...

      Parabéns, pois acrescentar ideias a um "debate" com tamanha desenvoltura é algo raro...

      Obrigado por participar...

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  8. Excelente post , se houvesse para esses assassinos o mesmo julgamento que houve para os policiais que mataram os bandidos no carandirú, seria um bom começo

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