Manicômios e Lobotomias

em 16/01/2017


A loucura, segundo o dicionário, pode ser definida como: “Distúrbio ou alteração mental caracterizada pelo afastamento mais ou menos prolongado do individuo de seus métodos habituais de pensar, sentir e agir.”.

Há várias opiniões, estudos e reflexões que buscam as origens da loucura. Ao longo do tempo, esses conceitos vão mudando conforme os padrões sociais e, consequentemente, ganhando novas formas.

Sabe-se que durante a história, o mundo foi preenchido por homens “loucos” e que moldaram o modo de pensar do mundo com suas contribuições.


Porém, existiam loucos que saíram do controle e não conseguiam manter-se dentro dos padrões sociais da época. Com ataques de raiva, crises de depressão ou mentes que simplesmente pensam diferentes, cresceram com uma distorção assombrosa do mundo. Para eles foram então criadas instituições para o tratamento dessas mazelas, chamadas de Manicômios e Hospícios.

Essas instituições abrigavam, recolhiam e davam assistência aos chamados “loucos”. As denominações variam de acordo com os diferentes contextos históricos em que foram criados. O termo manicômio surge a partir do século XIX e designa mais especificamente uma espécie de hospital psiquiátrico, já com a função de dar um atendimento médico sistemático e especializado.
A prática de retirar os doentes mentais do convívio social para colocá-los em lugares específicos surge em um determinado período histórico. Segundo Foucault, no seu livro “A História da Loucura na Idade Clássica”, isso tem origem na cultura árabe, datando o primeiro hospício conhecido do século VII.

Os primeiros hospícios europeus foram criados no século XV, na época da ocupação Árabe da Espanha. Na Itália, eles datam do mesmo período, e surgem em Florença, Pádua e Bérgamo.

No século XVIII os hospícios proliferam e abrigam juntamente os doentes mentais com marginalizados de outras espécies. O tratamento que essas pessoas recebiam das instituições costumava ser desumano, sendo considerado pior do que o recebido nas prisões convencionais da época. Diversos depoimentos como o de Esquirol (importante estudioso destas instituições do século XIX) retratam este quadro.


“Eles são mais mal tratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantém nas capitais.”.
(Esquirol)

Influenciado pelos ideais do iluminismo e da Revolução Francesa, Philippe Pinel (1745-1826), diretor dos hospitais de Bicêtre e da Salpêtrière, foi um dos primeiros a libertar os pacientes dos manicômios das correntes, propiciando-lhe uma liberdade de movimentos por si só terapêutica. Desde que a questão dos “loucos” passa a ser um assunto médico-científico, surgem duas correntes diferentes de pensamento com relação ao trato dos pacientes e à origem de seus males. Uma linha crê no tratamento “moral”, nas práticas psico-pedagógicas, nas terapias afetivas como mais importantes. A outra corrente de pensamento focaliza o tratamento físico, crendo ser a loucura um mal orgânico, fruto de uma lesão ou de um mau funcionamento encefálico. Para esta última, o ambiente dos manicômios, suas instalações, não é tão relevante para o tratamento.


Mesmo após as reformas instituídas no século XIX por Pinel, um dos primeiros a aplicar uma “medicina manicomial”, o tratamento dado ao interno do manicômio era mais uma prática de tortura do que a uma prática médico-científico. Tanto a corrente organicista, quanto àquela que acreditava no tratamento “moral”, não dispensavam os tratamentos físicos. Nestes tratamentos buscava-se dar um “choque” no paciente, fazer com que passasse por uma sensação intensa, que o tirasse de seu estado de alienação.


Através da história, alternam-se momentos em que predominam as correntes “morais” e organicistas para o tratamento dos doentes mentais dentro da ciência médica Este último século foi marcado pelo aumento da contribuição das ciências humanas no sentido de entender a loucura como também uma categoria social, com diferentes sentidos em diferentes culturas e períodos históricos. A institucionalização, a exclusão do convívio social, também passa a ser entendida como uma prática histórica que, por si só, não significa o tratamento mais adequado para aqueles que entendemos como doentes mentais. Do mesmo modo como nasceu em um determinado período histórico, ela também pode acabar.

Lobotomia

Lobotomia, mais apropriadamente chamada de Leucotomia (já que lobotomia refere-se a cortar as ligações de qualquer lobo cerebral) é uma intervenção cirúrgica no cérebro, onde são seccionadas as vias que ligam os lobos frontais ao tálamo e outras vias frontais associadas. Foi utilizada no passado em casos graves de esquizofrenia. A lobotomia foi uma técnica bárbara da psicocirurgia que não mais é usada, exceto com inflição de lesões seletivas em regiões bem delimitadas.




Felizmente, lobotomias no mundo ocidental é coisa do passado. No entanto, é inacreditável imaginar que houve um momento na história médica, em que o uso de lobotomias foi implementado como uma espécie de solução para os doentes mentais com grave esquizofrenia.













by: Elson Antonio Gomes

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