Os simbolismos ocultos na história do "O mágico de Oz"

em 03/12/2014


Certamente vocês já devem ter lido, ou mesmo assistido, algo a respeito do filme “O Mágico de Oz” (The Wizard of Oz, 1939), ou mesmo podem até ter tido o privilégio de assistir tanto ao filme, ou ler o livro. Alguns mais velhos, assim como eu, podem até se recordar de um desenho animado contando a aventura de Dorothy e seus amigos. Muitos de vocês poderão afirmar que não gostaram do filme, mas ninguém pode negar o impacto que esse filme causou, e ainda causa, talvez pela grande quantidade de simbolismos e referências que podem ser encontradas na aventura de auto descobrimento que acontece ao longo da estrada de tijolos amarelos.

Ao longo dos anos o filme “O Mágico de Oz” de 1939 transcendeu sua condição de produto cinematográfico para se firmar como um poderoso arquétipo cultural de pelo menos três gerações de crianças e adultos. Lançado simultaneamente com o filme “E o Vento Levou” (“Gone With Wind”), foram consideradas na época duas grandes produções hollywoodianas: a primeira voltada para crianças e a segunda para adultos. Mas a imagem de Dorothy e seus amigos (o Homem de Lata, o Espantalho e o Leão) caminhando em uma estrada de tijolos amarelos tornou-se muito mais complexa em associações e simbolismos do que o romantismo de “E o Vento Levou”.

Há algo de oculto e misterioso em um livro infantil escrito há mais de 100 anos, que resultou na adaptação cinematográfica definitiva em 1939 e que criou um impacto ao longo das décadas em todos os setores da cultura, moda e comportamento. Linhas de diálogo do filme como “Estou derretendo! Estou derretendo!”, “Nunca mais voltaremos para Kansas” aparecem em variados filmes e gêneros como “O Campo dos Sonhos”, “Avatar”, “Matrix” e “Depois de Horas” de Scorsese onde um personagem gritava outra linha de diálogo (“Renda-se Dorothy”) toda vez que tinha um orgasmo.

Elton John com o disco e o hit “Goodbye Yellow Brick Road” de 1971, os sapatos mágicos de rubi de Dorothy em uma óbvia referência para a moda Disco dos anos 1970 e o fato de Judy Garland ter se tornado um ícone gay em um filme repleto de simbolismos para o movimento GLBT. O enigmático filme de ficção científica “Zardoz” de John Boorman, cujo título é uma contração dos termos “Wizard” e “Oz”. Isso sem falar na mãe de todos os boatos e teorias conspiratórias sobre o filme: a suposta sincronia entre o disco do Pink Floyd “The Dark Side of the Moon” de 1973 e o timing da edição do filme “O Mágico de Oz” (clique AQUI para ler).

O caso do filme “O Mágico de Oz” parece ser mais um exemplo de um fenômeno de sincronia na cultura, ainda mais sabendo que o autor do livro de 1900 “The Wonderful Wizard of Oz”, Frank Baum, era um membro da Sociedade Teosófica – organização empenhada em pesquisas sobre ocultismo e o estudo comparativo de religiões baseada principalmente nos ensinamentos de Helena Blavatski (clique AQUI para ler sobre ela). Com o seu livro, consciente ou não, Frank Baum criou uma profunda alegoria dos ensinamentos teosóficos por trás de um inocente conto de fadas para crianças.

Vamos recordar um pouco da história ambientada na terra de Oz. “O Mágico de Oz” acompanha a trajetória de uma menina de doze anos, Dorothy Gale, que vive com a sua família em uma fazenda no Kansas, mas sonha com um lugar melhor, uma vez que ela se sente ignorada por seu tio e tia, que são as pessoas responsáveis por ela. Após ter sido atingida na cabeça e perder os sentidos no momento em que um tornado leva sua casa para o para as alturas. A protagonista e seu cão, Totó, acordam na terra mágica de Oz, após a casa da menina “pousar” em cima da bruxa má do leste. Lá a Bruxa Boa do Norte aconselha Dorothy a seguir a estrada de tijolos amarelos para encontrar a Cidade de Esmeralda onde habita o Mágico de Oz que lhe ajudará a retornar a Kansas. No seu caminho Dorothy encontra o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão, que se reúnem na esperança de conseguirem o que acha que lhes falta – respectivamente um cérebro, um coração e coragem. Tudo isso enfrentando a Bruxa Má do Oeste que quer os sapatos de mágicos de Dorothy dados pela Bruxa Boa, após Dorothy acidentalmente ter matado a bruxa má do leste, que é irmã da bruxa má do oeste.

Como um bom teosófico, Frank Baum certamente baseou o argumento dessa busca dos personagens em uma frase Madame Blavatski: “não há perigo que a intrépida coragem não consiga conquistar, não há prova que a pureza imaculada não consiga passar, não há dificuldade que um forte intelecto não consiga superar”. Intelecto, pureza de sentimentos e coragem, três elementos que comporiam a nossa “centelha” interior que nos conecta à Plenitude. E a busca dessa descoberta interior inicia em uma jornada espiritual representada pela estrada de tijolos amarelos.

A Espiral, o início do caminho espiritual

É interessante notar que a estrada começa com uma espiral em expansão, da mesma forma como o tornado conduziu Dorothy a um mundo mágico. No simbolismo oculto a espiral representa a auto evolução, a alma ascendente, da matéria ao mundo espiritual. Além disso, a espiral partilha de uma complexa simbologia do eixo e da verticalidade. Enquanto forma ela enquadra-se perfeitamente no tema da identidade. Por ser uma forma logarítmica, isto é, por crescer de modo terminal sem modificar a forma total constitui-se no ícone da temporalidade, da permanência, do ser através das mudanças.


Os protagonistas vão encontrar muitos perigos e mudanças na estrada, mas devem descobrir aquilo que lhes é eterno e imutável: coração, inteligência e coragem.

Além disso, a alegoria da “estrada de tijolos amarelos” é uma evidente associação com o termo do Budismo (importante componente dos ensinamentos teosóficos) “Caminho Dourado” como a jornada da alma para a iluminação.

O Mágico: Deus é uma farsa

Assim como no filme “Matrix” onde Neo se decepciona com o aspecto do Oráculo (representado por uma simples dona de casa fazendo biscoitos no fogão) que vai determinar se ele é de fato o Escolhido, da mesma forma em “O Mágico de Oz” o Mágico é desmascarado por Dorothy que descobre ser tudo uma farsa cercado de artifícios e efeitos especiais. Mas, apesar disso, desempenham papeis centrais na jornada espiritual do protagonista.

Os dois eixos que estruturam a narrativa de
"O Mágico de Oz": eixo espiritual
versus eixo material das religiões tradicionais
Em “Matrix” fica evidente que o Oráculo não possuía o dom da profecia, mas trabalha com uma espécie de psicologia reversa: ao dizer para Neo que ele não era o Escolhido sabia que ele faria de tudo para lutar contra esse destino, tornado-se o Salvador que todos esperavam. Com isso o Oráculo inseria o acaso e o livre arbítrio na previsibilidade dos códigos da Matrix.

Em “O Mágico de Oz” todos vão em busca do Mágico (Deus?) para conseguir alguma coisa: voltar para casa, coragem, coração e inteligência. É nessa jornada que descobrirão que tudo isso já está dentro deles. No combate contra a Bruxa Malvada do Oeste os amigos de Dorothy demonstram todas essas qualidades. Então, quem precisa do Mágico?

A sequência em que Dorothy abre a cortina e encontra quem realmente é o Mágico de Oz (um homem cruel, rude e inseguro que manipula um sistema que projeta a imagem de um Deus ameaçador em meio a trovões e jatos de fogo) é repleta de significados teosóficos.

Segundo esses conceitos, Oz corresponde ao Deus das religiões convencionais para manter as massas na escuridão espiritual. Um charlatão que criou dispositivos para assustar as pessoas e fazê-las adorá-lo. Oz certamente seria incapaz de ajudar os protagonistas na sua missão. Na literatura das escolas de mistérios esse é o ponto de vista em relação ao deus pessoal dos cristãos e judeus. E depois de toda essa jornada, o cérebro, o coração e a coragem foram encontrados em cada um dos protagonistas: as escolas de mistérios ensinam que se deve confiar em si mesmo para se obter a salvação.


E essa voz intuitiva interior de Dorothy é justamente o cãozinho Toto que, ao longo do filme, sempre está certo em seus latidos de advertência a Dorothy. É ele que, com seus latidos, denuncia alguém atrás da cortina controlando os efeitos especiais do charlatão Oz.

E é Toto que ao final late e pula fora do cesto do balão em que Dorothy viajaria com o mágico Oz para retornar a Kansas. É a transformação final e a gnose de Dorothy para a descoberta dos seus poderes internos. O passeio de balão seria a viagem de volta representativa das religiões tradicionais, enquanto fora dele Dorothy encontra a magia e a revelação final da Bruxa Boa do Norte: ela teve que derrotar as bruxas malvadas do Oriente (Leste) e Ocidente (Oeste) – o eixo horizontal do mundo material e das religiões. Ela soube ouvir o eixo vertical (as bruxas boas do Norte e do Sul), a dimensão espiritual - segundo as fontes usadas para a confecção desse texto (ver abaixo), o livro faz menção mais clara a existência de duas bruxas boas, já o filme foca mais na existência de duas bruxas más e uma boa.


E Dorothy consegue a transformação final ao afirmar com convicção para Tia Ema: “Não há lugar melhor do que em nosso lar”, ou seja, tudo que precisamos já está dentro de nós mesmos. Foi necessária toda uma jornada em busca da ilusão do Mágico-Deus-Demiurgo Oz para criar o desencanto e a transformação final dentro de si mesma.


Princípio da Correspondência

Também fica evidente em “O Mágico de Oz” o Princípio da Correspondência da Filosofia Hermética, presentes na Antiguidade tanto na Astronomia como na Alquimia: “O que está em cima é como está em baixo, e o que está em baixo é como está em cima”. Embora as sequências de Kansas e do reino de Oz sejam visualmente opostas (preto e branco versus colorido), são mundo espelhados e invertidos com os mesmos atores fazendo personagens diferentes, mas que, de certa forma, têm uma correspondência espiritual.

O trio de trabalhadores da fazenda de Dorothy formará, mais tarde, o trio de companheiros de jornada da protagonista; e a megera Sra. Gulch será a Bruxa Malvada do Oeste. Gulch na vida real quer retirar Toto (o simbolismo da intuição que levará à iluminação espiritual) dos braços de Dorothy, enquanto no mundo de Oz a bruxa quer roubar os sapatos mágicos. Por causa desse conflito, Dorothy foge de casa, o que faz com que ela encontre o professor Marvel, um de vidente charlatão que indica que Dorothy deve voltar para casa, depois de realizar uma consulta na sua bola de cristal (na verdade ele finge consultar a bola, mas quando Dorothy fecha os olhos de acordo com o pedido do vidente, ele mexe nas coisas da menina para saber mais sobre ela). Na terra de Oz o professor é o grande Mágico farsante de Oz.



Oz é o Plano Astral da humanidade, onde estão expressos de forma arquetípica os conflitos e batalhas no mundo físico. Os conflitos e buscas do Homem de Lata, do Leão e do Espantalho correspondem aos mesmos dilemas e personalidades mostradas nas primeiras cenas do trio de trabalhadores nos afazeres do dia-a-dia da fazenda.

O Mágico de Oz usado no Controle da Mental Monarca

Quase toda a documentação relativa ao projeto MK Ultra (clique AQUI para ler) e o Controle Mental mencionam a importância de O Mágico de Oz. Em 1940, a história teria sido escolhida por membros da comunidade de inteligência dos EUA para fornecer uma base temática para o seu programa baseado no trauma de controle da mente. O filme foi editado e dado um sentido diferente, a fim de usá-lo como uma ferramenta para reforçar a programação, sobre as vítimas. Aqui estão alguns exemplos retirados de Total Mind Control Slave de Fritz Springmeier:

A relação estreita entre a Dorothy e seu cachorro é uma ligação muito sutil entre o uso de animais em cultos satânicos (familiares). A criança escrava monarca é permitida ter a ligação com um animal de estimação. A criança vai querer se relacionar com um animal de estimação de qualquer maneira porque as pessoas são terríveis para ela por este ponto. Em seguida, o animal é morto para traumatizar a criança.


Escravos Monarcas são ensinados a "seguir a estrada de tijolos amarelos." Não importa que coisas assustadoras pela frente, o escravo monarca deve seguir a Estrada de Tijolo Amarela, que é estabelecida antes deles por seu mestre.

Leia Mais: O Controle mental Monarca


O arco-íris com suas sete cores, há muito tempo tem o significado oculto de ser um dispositivo hipnótico espiritual.

Dorothy está à procura de um lugar onde não há nenhum problema, que é um lugar "Além do Arco-Íris". Para escapar da dor, os escravos passam por cima do arco-íris. (Isto é também conhecido em Alice no País das Maravilhas como "indo através do espelho"). Lembram das referências ao Arco-Íris no filme “De olhos bem Fechados” (clique AQUI para recordar)?

"Um lugar além do arco-íris" é provavelmente a música mais dissociativa já escrita e muitas vezes é jogada nos filmes durante os eventos violentos ou traumatizantes (veja o filme A Outra Face). O estranho efeito produzido, onde a violência não parece mais real, é exatamente como a dissociação funciona sobre as vítimas de controle mental. Também podemos especular que a cena em que Dorothy cai no sono em um campo de papoula é uma referência ao uso de heroína para relaxar e manipular as vítimas de controle mental. Além disso, considere a neve caindo do céu que desperta de seu sono Dorothy. Seria esta uma referência à cocaína?





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6 comentários:

  1. Correção: os sapatos de Dorothy não são de cristal, e sim de Rubi

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    1. No livro, a história original, eles são de cristal. No filme acharam melhor fazer de rubi, pra destacar o uso de cor na película, que era um recurso novo. Dê uma pesquisada ou leia a história original.

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  2. Mais uma vez um excelente post, esclarece muito bem todas as referências contidas neste filme.

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  3. Sempre fiquei intrigado com a história desse filme e sabia que havia algumas referências ocultas, mas esse post mostrou outras que não havia percebido. Muito bom! Já coloquei o site na minha lista de favoritos!

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  4. Teve algumas coisas ai contraditórias... Mas enfim, outras eu já havia percebido, como em relação as drogas por ex...

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  5. Parabéns pelo blog, seus posts são bem interessantes, somente o título nos instiga a querer ler sobre coisas ocultas.

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